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Match FAGEN

Sobre o problema do envelhecimento da audiência televisiva nos esportes – parte 2 de 3



Por Dr. Élcio Eduardo de Paula Santana


O primeiro post desta trilogia que trata do problema do envelhecimento da audiência televisiva nos esportes (o qual pode ser acessado aqui) aponta a avançada média de idade dos telespectadores esportivos. O que devem fazer as partes interessadas para ajustar a formatação desse negócio?


A televisão parece não ter o poder outrora observado de captar integralmente a atenção do indivíduo que se propõe a ficar exposto às irradiações da tela. Especialmente com o advento do smartphone, o ato de se expor ao televisor passou a ter a constante companhia do aparelho celular multifuncional, seja para aumentar ou variar o tipo de diversão, seja para se informar sobre algo que veio à mente. Esse ato policônico[i], de utilizar a TV e o smartphone concomitantemente, precisa ser mais adequadamente entendido e trabalhado pelas provedoras de conteúdo televisivo, visto que o telefone celular pode se tornar um potencializador da experiência de consumo da TV, e não necessariamente o vilão que distrai o consumidor do produto apresentado por meio do aparelho televisor e que potencialmente o leva a quitar a sua exposição frente ao eletrodoméstico em discussão.


A ESPN já provê ao seu telespectador a possibilidade de acessar um resumo com os principais lances de um determinado jogo enquanto o mesmo ainda acontece, especialmente daqueles do Campeonato Inglês de futebol, a Premier League, por meio da leitura de um QR code apresentado na tela da TV. Tal fato propicia a possibilidade de o fã de esportes, como é chamado o consumidor do conteúdo da ESPN, continue a se relacionar com o conteúdo exposto na tela grande, mesmo quando sua atenção não está totalmente direcionada para ela, de maneira que ele tenha a tendência de continuar elaborando mentalmente as informações sobre o esporte em exibição no televisor, ao mesmo tempo em que acessa a sua “bengala” virtual, fato que pode manter o consumidor mais propenso a voltar a fazer parte da assistência do evento televisivo assim que o break mental amparado no smartphone for finalizado.


Uma ação que não necessariamente é promovida pelos distribuidores de conteúdo, mas sim pelos esportistas, é a promoção de suas imagens em canais mais afeitos aos jovens, como, por exemplo, o Twitch. Como um efeito residual, os jovens podem passar a seguir o esporte propriamente dito. Essa discussão é exposta com propriedade pelo programa jornalístico, GP às 10h, do grupo de mídia voltado para o automobilismo denominado Grande Prêmio. Jovens pilotos da F1, como Lando Norris, George Russel e Charles Leclerc são ícones dessa geração que se expõem por meio da mencionada plataforma de distribuição de conteúdo, demonstrando as suas habilidades esportivas transportadas para o mundo virtual dos videogames, que por sua vez atinge as camadas mais jovens da população, que assim tendem a se interessar pelo esporte que eles praticam no mundo real[ii].


As equipes participantes dos esportes reais também fazem investidas no mundo dos jogos eletrônicos, atuando tanto em games de esportes quanto em outros jogos que geram competições entre equipes. Agremiações como o Flamengo, que possui suas atividades altamente centradas no futebol, formou uma equipe para participar de um jogo denominado League of Legends (LOL). A NBA, liga americana de basquete profissional, possui um campeonato denominado NBA 2k League, o qual congrega 23 dos 30 times que compõem a liga real. Tais ações visam aproximar essas marcas, ligas e agremiações ao público mais jovem, de maneira que ele possa assim se (re)aproximar do jogo real. Todavia, um efeito adicional e talvez, até mesmo, principal, seja a expansão do mercado consumidor da entidade ligada ao esporte físico, pois ao invés de o jogo eletrônico ser um meio de se atingir o esporte “de tijolo e cimento”, ele pode acabar se tornando um fim em si, representando assim uma nova fronteira para marcas que participam de ambientes esportivos.


Você já experimentou assistir a uma corrida de Fórmula 1 ou Fórmula Indy acompanhado dos aplicativos das respectivas categorias que trazem informação em tempo real? A ciência do que está acontecendo no evento esportivo em sua quase completude é uma dádiva para os altamente envolvidos com a modalidade; acredito que os moderadamente envolvidos que sejam jovens também possam a se engajar mais com a modalidade caso a policronia praticada com o duo TV e Smartphone seja devidamente promovido. Desta forma, mais jovens poderiam se tornar consumidores mais contumazes não somente das mencionadas categorias automobilísticas, mas de qualquer esporte que assumisse tal procedimento.


Outra maneira de potencialmente se aumentar a participação dos mais jovens na audiência esportiva televisiva é entender que a televisão não é o único meio de distribuição do conteúdo, devendo os gestores se atentarem para todas as possibilidades advindas da distribuição via streaming, como os já incensados smartphones, além dos tablets, computadores pessoais e qualquer outro gadgdet eletrônico que já exista e que eu nem faça a mínima ideia de que possa reproduzir conteúdo esportivo pela information superhighway (agora eu entreguei a faixa de idade em que me encontro :-), pois ninguém com menos de 35 anos provavelmente entenderá essa referência... sorry, dêem um Google!).


O efeito colateral é que esses aparelhos eletrônicos utilizados para se navegar na internet não são tão amigáveis quanto os bons e velhos aparelhos televisores, no que tange ao conforto de se passar horas assistindo a um evento esportivo. Desta forma, a possibilidade de se mudar a maneira como se consome o produto é deveras real. Talvez o esporte passe a ser consumido como se deglute o conteúdo de um saquinho de M&M’s: ninguém o come com apenas uma mordida, mas sim com um pequeno grupo de 3 confeitos sendo direcionados à boca aqui, 4 ali, 1 acolá, e assim vai. O jovem que tenha algum tipo de relação com o tênis possivelmente não tem a paciência de assistir a uma final de um famosíssimo torneio de Grand Slam que dure 4 horas, mas ele poderá acessar aos melhores momentos encontrados no YouTube, que podem ter formatos ultra comprimidos de 2 minutos, ou sínteses mais abrangentes de 5, 10, 20 minutos. Andrea Gaudenzi, o Chairman da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) desde o início de 2021, abordou em entrevista ao ATP Tennis Radio Podcast[iii] a sua vontade de distribuir os jogos de tênis em diversos formatos, adequando-se tanto àqueles que desejem um formato mais tradicional quanto àqueles que buscam um modelo que rompe com o padrão historicamente vendido.


Contudo, essa transformação pode extrapolar a distribuição e ter que atingir o formato do jogo propriamente dito. Essa é a visão de uma voz ressonante no mundo do tênis, o treinador e empreendedor Patrick Moratoglu, que criou o Ultimate Tennis Showdon (UTS), com o propósito de atrair jovens telespectadores para o mundo do tênis com uma proposta de jogo mais rápida e que valorize mais a personalidade do esportista. Essa relação estabelecida entre o consumidor e o esportista, centrada mais fortemente na figura humana e não na competição propriamente dita, é uma questão discutida na parte 3 desta trilogia sobre o problema do envelhecimento da audiência televisiva nos esportes, texto que pode ser acessado aqui. Comentem o conteúdo deste artigo e pulem para o próximo para continuar a exploração sobre o tópico aqui tratado.


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[i] Para entender mais sobre o uso policrônico do tempo, sugiro a leitura do seguinte artigo: KAUFMAN, Carol Felker; LANE, Paul M.; LINDQUIST, Jay D. Exploring more than 24 hours a day: A preliminary investigation of polychronic time use. Journal of consumer research, v. 18, n. 3, p. 392-401, 1991. Esse texto pode ser encontrado em: http://web.a.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?vid=0&sid=e78a2906-69e7-4129-bb68-6d0ab68fae7c%40sessionmgr4008 [ii] Veja o GP às 10 que versa sobre o tem no link https://www.grandepremio.com.br/f1/noticias/gp-as-10-geracao-twitch-como-george-russell-charles-leclerc-e-lando-norris-atraem-os-jovens-a-f1/ [iii] Sugiro a audição completa do podcast para se entender com mais propriedade diversas questões negociais relacionadas ao tênis, incluindo o mutável panorama da mídia. O link para o episódio é o seguinte: https://podcasts.apple.com/br/podcast/atp-tennis-radio/id1228587782?i=1000471784605


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