Por Vérica Freitas*
Convivemos com e participamos de projetos cotidianamente, mesmo não percebendo. Os projetos fazem parte da vida de todos, afinal, projeto é um esforço temporário realizado para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo (Project Management Institute - PMI, 2018). Dessa forma, uma viagem, a realização de um curso, a preparação de uma festa são exemplos de projetos que já conhecemos, participamos ou mesmo realizamos. Pode até ser que esses projetos não estejam sendo gerenciados, mas são projetos, atendem às duas distinções principais de um projeto (ser temporário e produzir um resultado exclusivo) e possuem um ciclo de vida, composto por suas fases inicial, intermediárias e final.
Oras, se já estamos realizando projetos corriqueiramente, mesmo sem os gerenciar, por que pensar em Gestão?
Gerenciar é importante para aumentar a probabilidade de alcance dos resultados almejados, qualquer iniciativa pode ser implementada sem gerenciamento, mas a aplicação de ferramentas e técnicas maximiza a chance de bons resultados. É valioso gerenciarmos projetos para aumentar as chances de sucesso dos projetos, ou seja, para que eles logrem os seus objetivos, que são basicamente os fatores que motivaram a sua realização. Gerenciar projetos consiste em aplicar habilidades, ferramentas e técnicas para a realização de um projeto, justamente para potencializar a efetivação dos seus objetivos (PMI, 2018).
Uma pesquisa global de 2016 demonstra que organizações que efetivamente gerenciam seus projetos, incentivando a formação de cultura organizacional de gerenciamento de projetos, alcançam resultados muitos positivos: seus projetos atendem às metas e diretrizes de negócios 2,5 vezes mais que organizações que não possuem (89% x 34%) e perdem 13 vezes menos investimentos financeiros (PMI, 2016a). Um levantamento mundial recente (PMI, 2019) demonstra que 68% dos projetos, realizados por organizações independente da sua área de atuação, alcançam os resultados propostos.
Dessa constatação, conseguimos começar a inferir a importância de gerenciar projetos esportivos. Diversas das entregas, conduzidas por grupos ou instituições públicas ou privadas, relacionadas ao esporte são realizadas através de projetos. Um campeonato de vôlei? Uma competição universitária entre estudantes? Uma corrida de rua? Uma campanha de incentivo à prática de exercícios? Projetos!
Certamente as pessoas que idealizaram essas iniciativas as fizeram por algum propósito, possivelmente para responder a uma situação ou realidade que requer ações para que seja melhorada. Além disso, considerando o cunho estratégico dos projetos, é essencial que os benefícios almejados com a realização do projeto sejam muito bem identificados, inclusive porque há restrição de recursos (pessoas, financeiros, naturais, tempo, dentre outros), sendo a identificação e priorização dos projetos de suma relevância para que o efetivo alcance dos benefícios delineados. Um levantamento demonstra que organizações que possuem elevado nível de maturidade na identificação dos seus objetivos desperdiçam 67% menos em investimentos, pois alcançam melhor desempenho em seus projetos (PMI, 2016b).
Um caso de sucesso na utilização do Gerenciamento de Projetos na área esportiva aconteceu no Chile, quando o país foi eleito sede da Copa do Mundo Feminina Sub-20 de 2008. Os gestores do Ministério de Obras do Chile perceberam que não seria possível atender às demandas do evento (que incluía construir quatro estádios em nove meses) mantendo os procedimentos informais e pouco estruturados que eram utilizados para gerenciamento de seus projetos. Ao capacitar as pessoas e adotar ferramentas e técnicas de gerenciamento de projetos, o Chile obteve êxito nos seus objetivos relacionados ao evento esportivo citado: os quatro estádios foram concluídos dentro do orçamento e no prazo previsto (PMI, sd).
Referências
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Research Highlights by Industry and Region. PMI’s pulse of the profession - 11th Global Project Management Survey. 2019. Disponível em: https://www.pmi.org/-/media/pmi/documents/public/pdf/learning/thought-leadership/pulse/pulse-all-comparison-reports-final.pdf?v=1f786811-3b88-443f-93c5-fc79188e6100.
Project Management Institute (PMI). Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (PMBOK). 6ed. Project Management Institute, 2017.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). The High Cost of Low Performance: how will you improve business results? PMI’s pulse of the profession - 8th Global Project Management Survey. 2016a. Disponível em: https://www.pmi.org/-/media/pmi/documents/public/pdf/learning/thought-leadership/pulse/pulse-of-the-profession-2016.pdf?v=e14f4e4b-6dba-41f5-a7bd-12bc71921a4c.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). The Strategic Impact of Projects: identify benefits to drive business results. PMI’s pulse of the profession - In-Depth Report. 2016b. Disponível em: https://www.pmi.org/-/media/pmi/documents/public/pdf/learning/thought-leadership/pulse/identify-benefits-strategic-impact.pdf?v=ba31966c-6d1a-4016-b43f-a0ccd34b9af5&sc_lang_temp=en.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE (PMI). Game On! PMI Case Study. sd. Disponível em: https://www.pmi.org/-/media/pmi/documents/public/pdf/case-study/chile.pdf?v=b9af5be1-2df6-44b4-be9f-9c4e56027447.
* Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo - EESC/USP (2012), mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar (2008), possui especialização em Administração pela USP (2004) e graduação em Engenharia de Alimentos pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP (2001). Desde 2011, é professora efetiva da UFU - Universidade Federal de Uberlândia, atuando na Faculdade de Gestão e Negócios (FAGEN) desde 2012. Foi sócia e consultora sênior do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), atual Falconi Consultores de Resultado, sendo que de 2002 a 2011 atuou e gerenciou diversos projetos de consultoria em Gestão com foco em melhoria dos resultados organizacionais. Tem experiência e interesse em Gestão, com ênfase em Inovação, Gerenciamento por Processos (BPM), Medição de Desempenho (KPIs), Gestão da Cadeia de Suprimentos, Indústria 4.0 e Gerenciamento de Projetos. Linkedin: linkedin.com/in/vérica-freitas-de-paula-7b0955b.
Como os esportes profissionais se apresentam em temporadas, com objetivos a serem cumpridos, datas de início e término da empreitada, diversas funções a serem desempenhadas por diferentes indivíduos, vejo que a lógica da gerência de projeto possa ser totalmente absorvida pelos gestores esportivos. Interessante notar que Parker e Skitmore (2005), em trabalho intitulado "Project management turnover: causes and effects on project performance", publicado no International Journal of Project Management, indicam que a teoria da "explicação do senso comum" não encontra suporte nos dados por eles encontrados, quando analisado o impacto da substituição do gerente de projeto na melhoria da performance do projeto, em si. Tal teoria é muito utilizada nas equipes esportivas quando essas desempenham abaixo do esperado, e uma…