Sobre a remuneração no esporte feminino
- Match FAGEN
- 21 de jun. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 1 de out. de 2019

Por Dr. Élcio Eduardo de Paula Santana
A ocorrência Copa do Mundo FIFA 2019 de Futebol Feminino suscitou uma série de reportagens sobre as demandas das jogadoras por remuneração equivalente às dos homens. Países socialmente mais desenvolvidos, como a Austrália, já conseguiram tal equivalência, relativa, é verdade, em função das temporadas das ligas masculinas e femininas terem durações diferentes (a dos homens é maior).
Por sua vez, nos Estados Unidos da América, país em que a busca pela igualdade é um tema pautado com mais recorrência nas lutas da sociedade, a seleção feminina do país impetrou uma ação contra a própria federação de futebol, a qual demanda por uma premiação igual para os homens e para as mulheres, no concernente ao desempenho das seleções em competições internacionais.
A desigualdade da remuneração não é privilégio somente do futebol. No que tange aos esportes de maior repercussão, somente o tênis se destaca na igualdade de remuneração, fato observado nos seus quatro grandes eventos, os torneios que compõem o chamado “grand slam”.
Um tenista de repercussão mundial, tanto por seu jogo quanto por sua verve filosófica, o sérvio Janko Tipsarevic, concedeu uma longa entrevista a David Law, jornalista da BBC e co-host do The Tennis Podcast, o programa de áudio maior repercussão no mundo do tênis. Na conversa, publicada pelo podcast no dia 11 de abril do corrente ano, Tipsarevic se mostrou contrário à equivalência de pagamentos, alegando que nos mencionados torneios os homens jogam partidas decididas em melhor de cinco sets, em contraposição às mulheres, que jogam em melhor de três sets. Além disso, ele apontou que a remuneração deve ser um resultado da geração de renda, e também afirmou que o torneio masculino chama mais a atenção do público, gerando assim, potencialmente, mais reditos para os promotores.
Alguns pontos para discussão podem ser extraídos dos fatos expostos anteriormente. Pode-se argumentar que os homens e as mulheres não estão executando o mesmo trabalho, pois eles e elas não competem entre si. Desta forma, a reclamação de que as mulheres não recebem a mesma quantia pelo mesmo trabalho que desempenham os homens não se sustentaria, pois os objetos de análise seriam diferentes.
Outra argumentação que almeja sustentar a diferença é a de que o esporte masculino é mais atrativo e em decorrência disso gera mais reditos que o feminino; mas isso não acontece porque a estrutura do esporte é pautada pela dominância masculina nas posições de topo do mundo corporativo, incluindo a direção das principais organizações esportivas, de mídia e de patrocinadores? Não seria essa atração um efeito da dominância machista presente na sociedade como um todo? O fato de as principais quadras dos torneios de tênis do chamado grand slam, por exemplo, terem a predominância masculina nos horários nobres se constitui em um resultado da atratividade maior do esporte masculino, ou em um gerador de maior atratividade para o esporte masculino, em detrimento do feminino?
Contudo, independentemente do fato de o esporte praticado pelos elementos de um sexo terem a capacidade (ou não) de gerar mais receita que o do sexo oposto, o mundo não seria melhor se o grupo dominante abrisse mão de um “pedaço da torta” em favor de suas companheiras de humanidade, como afirmou Catherine Whitaker (uma feminista declarada), co-host do já mencionado Tennis Podcast? A igualdade não propiciaria uma convivência mais pacífica e uma sensação de tranquilidade na consciência para os homens, que por tanto tempo subjugaram as mulheres (e ainda o fazem, em menor escala, é verdade)? Se o sentimento humanitário, genérico, não for o suficiente, o fato de que uma filha ou uma irmã possa ter o mesmo reconhecimento financeiro por meio do esporte, não é algo que toca o coração masculino ao ponto de fazê-los aceitar uma redução em seus ganhos financeiros?
Mas o mundo dos negócios, que tem o bolso dos investidores como a parte mais sensível, fará emergir o questionamento: quem paga a conta? Seriam os atletas masculinos que abririam mão de sua superior remuneração ou as organizações esportivas que nivelariam o nível de rendimentos? Não seria esse um caso de uma intervenção regulatória do poder público, cumprindo o seu papel precípuo de ajudar a todos os elementos componentes da sociedade que elege seu corpo decisório como seus representantes? Pode-se até justificar tal ação com uma visão de longo prazo, pois a perspectiva de ganho justo faria com que mais meninas se propusessem a ser atletas, fato que levaria a uma maior competição entre elas, e em decorrência ocorresse o surgimento de esportistas do sexo feminino com um desempenho ainda melhor, propiciando um aumento no nível do esporte, o que poderia gerar um maior interesse ao ponto de se equivaler ao do masculino, independentemente das mazelas estruturais. Tal perspectiva foi abordada pela Dra. Lina Nakata, ex-professora da UFU/FAGEN e atual docente do IBMEC, em curso de extensão realizado na FAGEN sobre “Esporte e sociedade: debates ampliados”, no início de 2015. Ressalta-se que esse foi o elemento decisivo de motivação para Richard Williams, pai das consagradas irmãs Williams (Venus e Serena), direcionar as formações esportivas de suas rebentas para o tênis, após ler em uma publicação a premiação recebida por Chris Evert e Martina Navratilova, dois expoentes do tênis feminino das décadas de 70, 80 e 90.
Todavia, as organizações envolvidas na indústria do esporte poderiam pensar sob a lógica do retorno sobre o investimento, atrelado à prática do marketing de mercado-alvo, para fazer com que o esporte feminino decolasse, propiciando assim que a hipótese do encaixe (match-up hypothesis), como estabelecido por Kamins (em artigo publicado no Journal of Advertising em 1990), possa acontecer e permitir que o mundo do esporte feminino tenha uma vida própria, que não dependa da benevolência de quem quer que seja. Mas, para que isso tenha chance de acontecer, as mulheres precisam tomar a frente de, pelo menos, as organizações esportivas que controlam o esporte feminino. Por exemplo, se a FIFA e as suas confederações afiliadas ao redor do mundo não forem sensíveis a essa demanda, o que impede as mulheres de criar uma organização controladora somente do futebol feminino ao redor do mundo? Ah, a FIFA poderia sancionar as atletas que se juntassem a essa organização pirata! Que seja! Sanções maiores, como uma efetiva proibição de funcionamento, não encontrariam respaldo em países democráticos com um judiciário independente.
Entrando ainda mais no nosso microcosmo e em um objeto mais restrito de análise, não seria o caso de a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) assumir o protagonismo de organização do futebol feminino, potencialmente assim vindo a adquirir ganhos incomensuráveis de melhoria de sua imagem, que anda tão deteriorada? Deteriorada ao ponto de uma criança de 8 anos estar torcendo contra a seleção brasileira em uma Copa América (relato pessoal confidenciado a mim) – quando eu tinha 8 anos, eu gostava mais de assistir a “jogos do Brasil” (isso mesmo, confundindo seleção e país) do que de comer! Quando o Brasil perdeu na Copa do Mundo de 1986, eu precisei ser amparado pelos meus pais, dado o meu desespero e a centralidade que aquilo tinha em minha vida. Ok, eu posso ser um pouco disfuncional (ou era, será que ainda não sou?), esportivamente falando, mas o fato de 16 mil gatos pingados estarem presentes em um amistoso da seleção brasileira, como aconteceu no recente jogo contra Honduras em Porto Alegre, é mais um indicativo desse desgaste do torcedor com a confederação, que tem um efeito residual no seu principal produto, o time de futebol da equipe nacional.
Destarte, se a CBF utilizasse seus recursos para, num primeiro momento, subsidiar, ou parcialmente subsidiar o futebol feminino, não somente a seleção, mas principalmente o mercado interno do esporte para as mulheres, uma revolução poderia ser levada a cabo e o aproveitamento dessa ação, com fins mercadológicos, poderia ser utilizada pela confederação para “virar o placar da imagem”, no que concerne ao seu “jogo” com a opinião pública.
Acho que vale a pena pensar sobre isso.


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